1 – INTRODUÇÃO
O Projeto Político Pedagógico da Comunidade de Aprendizagem Ser Comunidade nasceu da necessidade de dar resposta às famílias que não pretendem, por motivos variados, matricular os seus filhos no ensino regular, mas que lhes querem proporcionar oportunidades de socialização, desenvolvimento e educação num ambiente familiar, juntamente com outras crianças nas mesmas condições.
A Ser Comunidade, por ser de gestão sociocrática, levará este documento para ser objeto de reflexão pelos seus membros (educandos, educadores e famílias) e integrará qualquer alteração que daí derive.
A Ser Comunidade acredita que pode contribuir para uma mudança de paradigma na educação, apoiando famílias com crianças de variadas idades, apostando em pedagogias diferenciadas de valor comprovado, adequadas sempre às necessidades de cada criança/jovem.
“A liberdade de aprender e ensinar e o direito à educação são reconhecidos e garantidos enquanto direitos fundamentais, respetivamente, no n.º 1 do artigo 43.º e no artigo 73.º da Constituição da República Portuguesa.” in Diário da República
A responsabilidade de assegurar o cumprimento da lei de bases do ensino, cabe a cada família e não é assegurada, legalmente, pela comunidade de aprendizagem.
2 – IDENTIFICAÇÃO
A Ser Comunidade, promotora desta comunidade de aprendizagem, é um coletivo de educadores empenhados na mudança do paradigma e transformação da educação.
2.1 - Endereço
Rua do Rio Velho, nº38 3885-271 Cortegaça, Ovar, Aveiro.
Contactos: 928062559
Ser Comunidade | comunidade de aprendizagem - www.sercomunidade.net
2.2 - Horário de funcionamento
As atividades decorrerão desde o início de Setembro até ao final de Julho entre as 9h e as 18h.
3 – CARTA DE PRINCÍPIOS E VALORES
A carta de princípios define a nossa intenção e a forma como nos propomos relacionar entre nós e com a comunidade.
Aprendemos mais e melhor quando aprendemos uns com os outros.
Por isso, propomo-nos a ser a família fora de casa, a ser o grupo de amigos, a ser facilitadores da aprendizagem, sempre de mãos dadas com as famílias.
A comunidade compromete-se, com as famílias, a respeitar a singularidade de cada criança e nutrir o que de melhor há nelas, bebendo da sabedoria e provas dadas de métodos pedagógicos referenciados e certificando-nos que temos uma equipa capaz e alinhada com o propósito, para avançarmos juntos, com segurança e confiança.
Todos os que participam da comunidade - famílias, tutores, funcionários, voluntários -, são agentes da educação e, portanto, responsáveis por ela.
A comunidade não se afigura como um lugar de acumulação de conteúdos teóricos, mas um local onde as crianças e jovens podem desenvolver a sua autonomia, sentido crítico, competências socioemocionais, responsabilidade, valores e construção de experiências e conhecimentos.
Para nós, cada criança/jovem é um ser único e irrepetível, merecedor de respeito. Não somos todos iguais e, portanto, não aprendemos da mesma forma ou no mesmo compasso. Importa-nos saber o que faz vibrar cada um, descobrir as suas aptidões e potenciais, aguçando a sua curiosidade.
A comunidade não é hermética, não se resume à sua sede. A comunidade é aberta à arte, cultura, comércio, educação e realidade do seu meio ambiente; é aberta às famílias, os seus costumes, os seus valores e os seus saberes.
Como tal, temos um valor mor que nos rege e sob o qual todos os outros valores vivem.
3.1- O Amor
O valor do amor abrange todos os outros valores que regem a comunidade. Onde há amor há: respeito, responsabilidade, autonomia, solidariedade, empatia, comunicação, liberdade, honestidade, verdade...(e todos mais que quiserem colocar sob este guarda-chuva, pois eles cabem todos aqui).
Por outro lado, onde não vive o amor, proliferam todos os males do ser e da sociedade.
É nosso objetivo maior, que toda a comunidade, em cada acto, reflita se vem de um lugar de amor, pois se aí nasce, então é bom.
4 - PEDAGOGIA
A Comunidade de Aprendizagem Ser Comunidade tem por objetivo maior ajudar as suas crianças e jovens a tornarem-se Seres Humanos na plenitude do conceito.
Ser Humano (Homo Sapiens) é o termo utilizado nas ciências para caracterizar a espécie de vida evolutiva que se difere das demais pela sua inteligência, razão e criatividade.
SER (verbo) Humano, diz-se de quando demonstramos empatia, respeito, amor, consideração por nós e pelo próximo.
Para tal, temos como inspiração projetos como o da Escola da Ponte e uma variedade de outros projetos, grandes e pequenos, que utilizam metodologias ativas, respeitadoras do ritmo e tempo da criança, mas potenciadoras da sua autonomia, desenvolvimento e confiança (baseado na metodologia de projetos).
Apoiamo-nos também em vários métodos e pedagogos com comprovadas mais valias para o desenvolvimento saudável das crianças.
Em articulação com a componente pedagógica mais “formal”, privilegiamos:
-
O autoconhecimento, com práticas de meditação e mindfullness;
-
A reflexão e o sentido crítico, com o método socrático de questionamento;
-
O aprender a fazer, fazendo;
-
O brincar livre e o contacto com a natureza;
-
As expedições.
4.1 - A Prática
No dia a dia seguimos um plano simples e flexível:
1º Momento – Amanhecer Juntos (círculo de reflexão)
2º Momento - Organização autónoma do dia
3º Momento - Currículo (português, matemática ou inglês)
4º Momento – Projeto
5º Momento – Oficinas
6º Momento – Entardecer Juntos (círculo de reflexão)
7º Momento – Clube - Exploradores da Natureza
Não existem classes, existem níveis de integração de conhecimento e autonomia e, portanto, não existem idades específicas para atingir uma determinada meta. Os níveis são Iniciação, consolidação e desenvolvimento. Crianças diferentes, poderão estar em níveis diferentes, em áreas diferentes. As crianças são incentivadas a ajudarem-se umas às outras.
4.1.1 Atividades
Começamos e acabamos o nosso dia com exercícios de reflexão/meditação/mindfulness.
As atividades serão variadas e vão desde oficinas relacionadas com competências essenciais do dia a dia (culinária, empreendorismo, literacia financeira, etc), passando por ofícios (mecânica, carpintaria, robótica, etc), até às artes.
Na medida do possível, as oficinas serão dinamizadas pelas famílias ou outros membros da comunidade, sendo dado o devido valor a saberes partilhados pelas gerações que nos precedem (avós ou parcerias com a Universidade Sénior), a chamada intergeracionalidade.
4.1.2 Currículo
Seguimos o currículo português de acordo com a lei vigente.
O currículo é apolítico e livre de ideologias. Estimulamos o método socrático de questionamento, a pesquisa e a fundamentação de ideias e opiniões.
Nas áreas de português, matemática e inglês, adoptamos uma abordagem mista. Temos momentos mais formais e momentos menos formais onde as aprendizagens são integradas nos projetos e nas oficinas.
Relativamente às restantes áreas, são abordadas de forma interdisciplinar através dos projetos, das oficinas, do Clube - Exploradores da Natureza e das expedições. As crianças irão realizar, aproximadamente, 19 projetos por ano letivo, com a duração de 15 dias cada um.
O Clube - Exploradores da Natureza é parte integrante do processo de aprendizagem pelos seus benefícios no desenvolvimento da autonomia, capacidade motora, competências de cooperação, experimentação das aprendizagens e bem-estar emocional, para além de fazer crescer nas crianças o sentido da importância dos nossos ecossistemas, o nosso papel neles e a importância da sua conservação.
As expedições, por seu lado, trazem o currículo à vida sendo vinculadoras das aprendizagens.
4.1.3 Avaliação
A avaliação é feita de forma qualitativa e contínua, em todos os momentos, à excepção dos momentos de requerem os exames de equivalência exigidos por lei, que serão quantitativos.
A avaliação qualitativa divide-se em autoavaliação, avaliação pelos pares e avaliação pelos tutores. Estes momentos servem para que a criança se responsabilize pelo seu processo de aprendizagem, consiga identificar áreas de melhoria e accionar métodos de correção, mudança de rumo, adaptação, autonomia e melhoria gradual e contínua.
5- RESPONSABILIDADE EDUCATIVA
Na medida em que todos somos agentes educativos, todos somos responsáveis. No entanto e, apesar de nos responsabilizarmos pela qualidade das aprendizagens na comunidade, os responsáveis máximos serão sempre as famílias, inclusive, perante a lei.
Trabalharemos sempre em colaboração próxima com as famílias para nos certificarmos que as expectativas e necessidades de todos são nutridas.
6- METAS DA COMUNIDADE
São as seguintes, as metas e ambições da comunidade de aprendizagem:
a) Em conjunto com toda a comunidade escolar, estabelecer as estratégias necessárias ao desenvolvimento do trabalho em planos de periodicidade quinzenal;
b) Ter uma equipa de educadores, pais, tutores e demais envolvidos com a educação para a organização do trabalho, tendo como centro o educando;
c) Promover uma prática educativa que viabilize o saber, os valores da comunidade e envolver e inteirar todos quanto aos princípios norteadores da comunidade, com vista a uma participação ativa;
d) Organizar espaços físicos e projetos de estudos adequados à proposta pedagógica e filosófica da comunidade;
e) Confiar aos pais a corresponsabilidade das ações da comunidade;
f) Incentivar as crianças a que sejam eles próprios, responsáveis pela organização e manutenção das instalações e dos recursos materiais disponíveis;
g) Priorizar a participação dos educandos na organização e no desenvolvimento das atividades escolares;
h) Trabalhar em parceria com os agentes da comunidade: associações, escolas, negócios locais e autarquias;
i) Promover junto dos educandos, a intervenção ativa na comunidade local incentivando projetos de melhoria do meio ambiente e voluntariado;
J) Potenciar o convívio intergeracional e a partilha de saberes;
k) Reanimar a nossa conexão com a natureza pelo contacto próximo e livre;
l) É nosso objetivo último, capacitar os educandos para que possam desabrochar como seres humanos únicos que são; cultos, informados, críticos, pensantes, que se conhecem a si próprios e felizes.